segunda-feira, 29 de abril de 2013
Você sabia? Pesquisa feita mostra que destros vivem em média 9 anos mais que os canhotos o_0.
Fernando Rodrigues, de Washington
Ser canhoto tem efeitos colaterais. O uso preferencial da mão esquerda diminui a expectativa de vida em nove anos, segundo estudo publicado pelo The New England Journal of Medicine. Trata-se de uma das mais respeitadas revistas de medicina dos EUA.
Foram estudados 987 casos. Na média os destros vivem 75 anos. Os canhotos, apenas 66. O trabalho da pesquisa foi feito por Diane Halpern, da Universidade da Califórnia, e por Stanley Coren, da Universidade de British Columbia, Canadá. Não são apresentadas razões conclusivas para os canhotos viverem menos do que os destros.
Entre as possíveis causas da menor expectativa de vida, os pesquisadores apontam o maior risco de sofrer acidentes por parte dos canhotos. Nos 987 casos estudados, 7,9% dos canhotos morreram em acidentes. Para os destros, esse índice foi de apenas 1,5%.
Um exemplo de acidente, segundo Coren, seria uma natural desvantagem dos canhotos em relação aos destros na hora de dirigir um automóvel. Quando enfrenta uma situação inesperada ao volante, o destro tenderia a levantar mais a mão esquerda do que a direita para proteger o rosto.
Coren especula que isso tende a levar o carro mais para a direita. Com um canhoto, acontece o inverso – levantaria mais a mão direita do que a esquerda para proteger a face, logo, jogando a automóvel para o lado onde vem o tráfego em sentido oposto.
Para fazer a pesquisa, Coren e Halpern enviaram questionários a familiares de duas mil pessoas mortas na Califórnia. Receberam 987 respostas. Para efeitos de pesquisa, consideram destros apenas aqueles que utilizavam exclusivamente a mão direita. Aqueles que escreviam com a direita mas, por exemplo, utilizavam a esquerda para arremessar uma bola ao jogar beisebol foram considerados canhotos.
Outras estatísticas relacionam também o fato de ser canhoto com maior ocorrência de distúrbios no sistema imunológico (de defesa). Eles também parecem mais sujeitos a doenças neurológicas. Logo, podem morrer mais cedo.
A especulação vai além e o estudo afirma que o hormônio testosterona é o responsável pelo distúrbio na gestação. O hemisfério esquerdo do cérebro, que controla o lado direito do corpo, seria mais sensível a essa substância. Caso a mãe produza mais testosterona na gestação, o hemisférios esquerdo do cérebro do bebê poderia ser enfraquecido e o lado direito passaria ao controle.
Coren ficou surpreso com o resultado obtido. “Se tivéssemos encontrado uma diferença de dois anos eu teria relaxado. Mas nós encontramos uma diferença quatro vezes maior do que isso. Ficamos estarrecidos. Não tínhamos idéia de que seria tão grande”, disse.
Especialista recomenda mais estudo
Claudio Julio Tognolli
O neurologista Norberto Rodrigues, especialista em lateralidade, acredita que são necessárias pesquisas em outros países e com pessoas de atividades para concluir definitivamente que canhotos vivem de fato menos que os destros.
“Existem diferenças cerebrais nos dois grupos de pessoas, mas desconhecemos qualquer estrutura ligada ao período de vida”, diz. “Já vimos trabalhos que mostram algum tipo de peculiaridade no cérebro do canhoto e outros que dizem exatamente o contrário”.
Segundo Rodrigues, a diferença básica comprovada cientificamente entre destros e canhotos é que os primeiros têm mais habilidade motora com o lado direito e os canhotos com o lado esquerdo.
Segundo o médico, existem pessoas ligeiramente canhotas e totalmente canhotas. Dos cerca de 20% da população que nascem com predomínio do lado direito do cérebro, metade – os “fracamente canhotos” – torna-se destra em função das regras sociais que privilegiam esse grupo.
“O desenho de carros, carteiras escolares, tesouras, abridores de latas e violões são alguns exemplos de como a sociedade foi construída para a atividade motora do lado direito”, diz.
O grande problema para os canhotos é enfrentar a pressão de pais e professores, às vezes violenta, para comer e escrever com a mão direita. “qualquer pessoa que se vê obrigada a mudar sua natureza pode desenvolver algum tipo de neurose”, diz Rodrigues.
É difícil especificar, no entanto, que tipo de distúrbio essas pessoas poderão desenvolver. “Isso depende da história de vida de cada um”, diz Rodrigues. “Uma coisa, porém, é certa, quem é totalmente canhoto nunca vai ser destro”, afirma. Não adianta forçar a mão.
Fonte: Folha de São Paulo 05/04/1991
